CCJ do Senado deve votar nesta quarta proposta que anula trechos de decreto de Lula e autoriza clubes de tiro próximos a escolas
- Redação - Verde Oliva

- 14 de ago. de 2024
- 4 min de leitura
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado deve votar nesta quarta-feira (14) uma proposta que anula trechos de um decreto do presidente Lula (PT) e flexibiliza restrições ao acesso às armas.

O texto volta à pauta da CCJ após pressão de parlamentares sobre o presidente do colegiado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), para que o projeto seja aprovado às vésperas do início das campanhas municipais.
Ao todo, a proposta derruba seis regras — ainda válidas — estabelecidas pelo decreto editado por Lula, em julho de 2023, para ampliar o controle sobre armamentos no país.
Em linhas gerais, o texto:
retira qualquer tipo de controle a armas de pressão
permite o funcionamento de clubes de tiro próximos a escolas
acaba com um regime de progressão de nível para atiradores
e concentra poderes no Exército
As regras do decreto de Lula somente serão anuladas se a proposta for aprovada pela CCJ e também pelo plenário do Senado. Se não sofrer modificações, o texto, que já foi aprovado pela Câmara, será diretamente promulgado pelo próprio Congresso — sem passar pela sanção do presidente Lula.
A possibilidade de uma eventual derrubada dos trechos é celebrada por associações que representam os CACs (Caçadores Atiradores e Colecionadores). E duramente criticada por entidades civis especialistas em segurança pública, como o Instituto Igarapé.
O instituto avalia o texto como uma possibilidade de “colocar em xeque a eficácia do controle de armas restabelecido” durante o governo Lula.
Por outro lado, as confederações de tiro esportivo afirmam que a proposta dá fim a medidas que têm causado “constrangimentos e entraves ao pleno desenvolvimento das atividades desportivas”.
Por trás das manifestações, o projeto chegou ao Senado com um acordo já pacificado entre a “bancada da bala” e o governo.
O texto foi aprovado pela Câmara em votação simbólica, com uma vice-líder do governo como relatora e como fruto de diálogos com o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.
Líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA) afirmou ao g1 que o texto terá o mesmo tratamento na Casa.
Na prática, significa que não deverá enfrentar problemas na CCJ e, futuramente, no plenário principal do Senado — votação que ainda não tem data para ocorrer.
O relator do texto no Senado, Vanderlan Cardoso (PSD-GO), declarou ao g1 que, após a análise do projeto, pedirá a aprovação de um requerimento de urgência para que a proposta entre com mais rapidez na pauta do plenário principal do Senado.
Interlocutores do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), dizem que não há chance de a proposta ser discutida nesta semana.
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Clubes de tiro
O projeto anula trecho do decreto de Lula e passa a permitir que clubes de tiro sejam instalados a menos de um quilômetro (km) de distância de creches, escolas e universidades públicas ou privadas.
Segundo Vanderlan Cardoso, a derrubada do trecho devolve aos municípios a competência para criar regras sobre a localização desses ambientes, que podem ou não contemplar distâncias mínimas de instituições de ensino.
Flexibilização para armas
O projeto autoriza que colecionadores, habilitados pelo Exército, reúnam armas iguais às utilizadas pelas Forças Armadas.
Também permite a coleção de armamento atualmente proibido. São eles:
automático, de qualquer calibre.
ou longo semiautomático, de calibre de uso restrito, cujo primeiro lote de fabricação tenha menos de 70 anos.
Comprovações para atiradores
A proposta acaba com um regramento que prevê comprovações de treinos e participação em competições para que uma pessoa conquiste o registro como atirador.
O trecho, que pode ser derrubado se o Congresso aprovar a proposta, estabelecia que, em cada um dos três níveis de registro, o atirador precisaria comprovar anualmente os critérios para cada um dos calibres registrado — a chamada habitualidade.
O texto também derruba uma regra que, para subir de nível, o atirador precisaria permanecer ao menos 12 meses em uma mesma classificação.
Apesar das mudanças, a proposta mantém os limites de armas e munições para cada nível de atirador:
Nível 1:
Até 4 armas de fogo de uso permitido
Até 4 mil cartuchos, por ano
Até 8 mil cartuchos .22 LR ou SHORT para cada arma, por ano
Nível 2:
Até 8 armas de fogo de uso permitido
Até 10 mil cartuchos, por ano
Até 18 mil cartuchos .22 LR ou SHORT para cada arma, por ano
Nível 3:
Até 16 armas de fogo, sendo quatro de uso restrito
Até 20 mil cartuchos, por ano
Até 31 mil cartuchos .22 LR ou SHORT para cada arma, por ano
Armas de pressão
O projeto acaba com qualquer tipo de restrição e controle, por parte do Exército e da Polícia Federal, sobre armas de pressão.
O texto de Lula previa restringir o acesso a armas de pressão com calibre superior a seis milímetros. Com a derrubada do trecho, deixam de existir regras para esse tipo de armamento.
Trocas de armas
A proposta permite aos CACs trocar armas com outros CACs, derrubando a proibição à transferência de acervos estabelecida pelo texto de Lula.
Além disso, a proposta também autoriza que armamentos registrados para uma finalidade sejam utilizados em outra — exemplo: uma arma de fogo cadastrada como de coleção poderá ser usada em tiro esportivo.
Poder do Exército
A proposta devolve ao Exército a competência para atestar e validar uma arma como histórica ou de coleção. O decreto de Lula dava esse poder ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) — o que, para entidades, poderia levar a um “maior controle sobre a prática do colecionamento”.
Se a CCJ e o plenário do Senado aprovarem o projeto, também passará a ser permitido que armas de coleção sejam utilizadas para disparos, além de eventos específicos e testes.
Por: Kevin Lima






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